sexta-feira, 24 de julho de 2009

Carta do pai. não a carta do pai Kafka, do meu pai.

Lido com isso todos os dias de minha vida. mas quando é com a gente doi de maneira especial. nunca imaginei que a minha reação fosse essa: não ter coragem de responder.
Achava que isso já era assunto superado por ele.
Não falamos sobre isso, mas quando soube, me explusou de casa. eu tinha 19 anos. saí de casa, parei de conviver com ele, mas depois disso, ele veio até Fortaleza (mora em sampa), conheceu minha ex companheira, fomos beber cerveja os três juntos e achei que estava realmente tudo mais ou menos bem.
Sem querer o convite pra entrar na comunidade do LAMCE no leskut (http://paradalesbica.ning.com/) foi parar na caixa de e-mail dele... e olha como me respondeu:
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Bom dia


Eu não quero acreditar que foi vc quem enviou esse convite BIZARRO, esta não é minha filha

Eu conheço voce como minha filha, criada por Jeová para ser mulher
ter uma vida como mulher, ter marido, filhos, como toda mulher normal

voce e outras pessoas que trocam o uso natural por outro não pode ser chamada de mulher,
de minha filha, aliás nem sei do que isso pode ser chamado, esse tipo de convite eu repudio
tenho nojo de pessoas que se envolve com demonismo, lesbianismo, hossexualismo,por favor
não mande mais e-mail sobre esses tipos de assunto não me interessa nem um pouco

O que eu quero saber de vc
Sobre sua saúde, seu trabalho.

Quando vc esteve em casa eu achei vc péssima como pessoa, baixa estima,
uma pessoa sem vida, abandonada,
Aí eu me pergunto, pra que isso? Se em algum momento vc tentou me agredir, já conseguiu
não precisa mais fazer isso.

Lamento muito por ter contribuído por sua decadência como ser humano
Jeová vai cobrar de mim cada erro que cometi com vc e seu irmão Fábio.
Vc será cobrada muito mais, se ser escrava de Jeová é duro o que dira do mundo, que cobra muito mais
e depois joga no lixo.


Repito, isso não pode ter vindo de vc, se veio foi porque vc permitiu.




Seu Pai
da ALESSANDRA GUERRA
NÃO DA LÉSBICA

5 comentários:

  1. Gata, não sei o que dizer (na verdade, acho que sei, mas como é seu pai tem que pegar leve). Só posso destacar que é de uma coragem imensa expor isso aqui, uma enorme contribuição enorme, sensível e corajosa a todas as mulheres, sejam elas lésbicas, bissexuais ou heterossexuais. Que bom que estamos nos libertando dessas amarras "divinas".

    Quanto a você ser uma pessoa sem vida e de baixa auto-estima... Bem, pelo jeito o seu pai não te conhece de verdade e perde muito da pessoa incrível e pra cima que você é. Que pena pra ele.

    E caso ele leia seu blog, mando um recado: Pai da Alessandra Guerra (a lésbica-feminista-amiga-maravilhosa-guerreira-mulher-libertária-militante-artesã-mãe), em suas conversas com Jeová, pergunte a ele quem inventou o preconceito, se Deus, o Diabo ou o "mundo"(ou seja, AS PESSOAS). Depois escolha de que lado você fica.

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  2. Concordo com a Sheryda quando diz que seu pai não a conhece. Que pena, ele não sabe o quanto está perdendo. Não é só a MULHER, lésbica, feminista, amiga e tudo o que a Shery falou, mas um ser humano sensível, cheio de coisas a acrescentar ao mundo.
    Nesse caso, Alessandra, quem perde é ele. Perde a oportunidade de conviver com a filha que ele tanto ama mas não é capaz de compreender. É uma pena, porque o arrependimento é certo. Quando nos colocamos numa posição de julgar o outro, acabamos na solidão.
    A família em que nascemos a gente não escolhe, mas os amigos, esses sim passam a ser o nosso novo refúgio.
    Alessandra, nós não vivemos mais juntas, mas mesmo assim você é parte da minha família. É minha filha, minha mãe, minha irmã enquanto quisermos assim. E também tem a grande família LAMCE que está sempre a postos.
    Eu te aceito no seio da família com suas fantásticas qualidades e seus tenebrosos defeitos. rsrsrsrs
    O importante é você saber que você não está só, e se não quiser, nunca estará.
    Beijo

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  3. Infelizmente muitas de nós ainda temos que lidar com esse tipo de atitude de quem normalmente deveríamos esperar conforto e apoio, também lido com atitudes parecidas em casa não moro mais com meus pais e em geral a relação da gente é boa, mas quando se trata da minha orientação a coisa não é bem tranquila, se é que me entende.
    O que podemos fazer?
    Deus te dê mais tranquilidade e serenidade para aceitar o que não pode mudar, ele contianuará sendo seu pai e eu torço para que a relação de vcs seja sempre tranquila e o mais saudável possível.
    Abraço

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  4. Kerida Alessandra, receba um forte abraço.
    Não nos conhecemos pessoalmente, mas sim nos reconhecemos na luta, e é isso o que importa.
    Acho que o seu pai, na hora de se sentir agredido, Ageu igual que uma fera ferida e começou a agredir vc.
    Que pena que alguém tenha criado a Jeová, mas se não fosse J, certamente, outras formas haberiam de opressão. De certo, elas existem em variados formatos.

    Infelizmente neste mundo, até as ativistas devemos sair dos armários todos os dias. Não tem o “já cheguei”. Sempre a vida nos coloca a prova, uma e outra vez.

    Seguimos na luta, seguimos nos encontrando, reconhecendo e nos abraçando. Com um punho sempre em alto. Não o baixe mesmo quando falem que vem vc mal, a gente sabe que não é assim.
    Muita sorte e coragem, kerida.
    marian pessah

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  5. gostei muito do seu blog, mas esse post doeu. e a dor é universal, né, moça?

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